O que há @qui?

... textos da minha autoria (ou com os créditos devidos se não forem) ... imagens da internet (algumas fotos minhas) ... poesia em prosa (e prosa poética) ... links poéticos (outros não) ... as minhas músicas (também as tuas talvez) ... comentários (ou não) ... eu e o meu narcisismo... somente!

Nos br@ços de Neptuno


Vou caminhando por um areal imenso
Imersa em pensamentos difusos

De corpo abraçado avanço contra o vento
Paro porque o cabelo me tapa o horizonte

Sinto uma vontade imensa de abraçar o sal do ar
E isso dá-me alento para continuar

Viro em direcção à encosta rochosa
Quando as ondas mansas se aproximam

Viro direita ao azul intenso do mar
Quando a imensidão do penedo me assusta

Avanço com uma mão cheia de certezas
Próprias de quem tudo sabe e nada pergunta

Que a praia não acabará antes das minhas forças
Que as pernas não falharão antes do fim da praia

O frio corta as faces a cada momento mais gélidas
Balançando com o calor do sol nas minhas costas

O ponto de não retorno está próximo
Oscilando entre as rochas e as ondas a praia estreita

O nó na garganta aperta e a cada momento
A decisão de avançar ou recuar se impôe

Olhando para trás vejo a roupa caída
Em cada peça um pouco do meu cheiro

Quando já só resto eu com pouco de mim
Inalo o ar salgado e mergulho no azul

Ouço ao longe uma voz que conheço como minha
Que segreda aos ouvidos de Neptuno
“Deixa-me encostar-me a ti, voltei para ficar…”

Manhã chuvos@

Nesta manhã chuvosa ao olhar-me ao espelho
Não me revi nele nem sequer depois nos teus olhos.
Ao olhar de relance para o lado negro de mim mesma
Vi uma sombra que me fugia por entre chuva incessante
Que procurava alguém que julgava conhecer outrora.
Assim, deixando de seguir quem julguei algum dia ver
Por entre o olhar indiferente de quem já não reconheço
Perco-me dentro de mim numa imensa solidão.

Um sonho


Sentir numa voz vibrações positivas
Idealizar um retrato a preto e branco
Guardar na memória o que não se vê

Sentir o toque mesmo antes de tocar,
Acolher uma imensidão de sensações
Uma de cada vez. Saboreadas devagar.
Esconder o rubor teimoso de olhos fechados
Reviver o sonho de uma cabana e imaginar…

Estrel@s


Estrelas brilhando constantes na noite
Num firmamento distante que não é o meu
O meu céu tem nuvens pairando como abutres
Talvez aprenda a voar e a espantar as aves

Estrelas solitárias num tom luminoso
Num longo sonho que não é o meu
O meu sono tem pesadelos curtos e certos
Talvez consiga serenar um dia sem pensar

Estrelas juntas apartadas por anos-luz
Num azul celestial que não alcanço
A minha cor é escuro noite cerrada
Talvez um dia os meus olhos vejam além

Estrelas reluzentes num espaço longínquo
Brilhando na noite tal como eu o não faço
O meu tom é preto matizado de cinzento
Talvez o meu fado seja juntar-me a elas
Talvez já...
Talvez!

Di@s e noites


Tenho dias em que a noite me sabe a pouco e tudo me soa falso

Tenho noites em que a escuridão se alonga pelo dia inteiro

Tenho dias em que acho que a cor da minha alma é o arco-íris

Tenho noites em que sinto em mim uma total ausência de cor

Tenho dias em que todas as minhas noites neles se confundem

Tenho noites sem dormir em que 7 dias inertes não me bastariam

Tenho em mim uma noite escura cheia de dias com cores luminosas

Um@ vida é pouco

Escreverei um livro
Mesmo daqueles pequenos
Sem muito que ler
Talvez uma linha ou duas
Em cada página

Direi mais tarde
Não faltou quase nada
Plantei uma árvore
Tive um filho
Escrevi um livro

Passo pela vida depressa
Sem tempo para mais
Quero experimentar tudo
Mas uma vida é pouco

O dia deveria ter 48 horas
Mas já não seria o nosso dia

Talvez o de um outro mundo
Talvez lá se viva mais devagar
Ou mais intensamente
Ou talvez não

Talvez eu queira tudo já
Ou melhor ainda
Ou talvez não

A certeza que me assiste
É esperar pelos sonhos
Virarem realidade
Até lá... acho que uma vida é pouco

Fénix

Escrever sobre o que sinto
Colocar o que sinto em palavras
Deixam-me quiçá a vantagem
De não pensar nelas (nem em mim).
Falar abertamente não o faço!
Deixo-me escoar com as palavras
Que escrevo por não ter por que as dizer!

Sinto falta da outra parte de mim
Que se foi numa destas noites
E continua a fugir do meu outro eu.

Quando voltar a mim
Serei como a fénix
A renascer das cinzas.
Aí serei EU de novo
Com penas novas
E olhos abertos para o mundo.
Os meus hoje já me ardem
Pelas lágrimas que já nem caem.
Até elas se recusam a sair!

"Já disse que sou sozinho!"


Álvaro de Campos,
pormenor do mural de Almada Negreiros
na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958)
 "(....)
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou só sozinho!
Ah, que maçada querem que eu seja de companhia!
(...)"

Excerto de Lisbon Revisited
Álvaro de Campos

(Sentimento marcante do meu eu com palavras melhores que as minhas...)

Outono @margo

Folhas amarelas e velhas de plátano colam-se ao meu cabelo
Enquanto escorre um imenso rio feito de águas paradas
Pelas pedras que fazem o meu caminho nesta madrugada cinzenta.
Com um leve esgar turvo num semblante carregado
Chego a pensar ser estranho o igual que é o caminho da água
Que frondosamente cai, ao frio que se me entranha pela alma.
Vislumbro ao longe um raio de sol que se adivinha quente.
Talvez se o pudesse ainda sentir, ainda que levemente no meu rosto,
Aquecesse o quasi puro congelante de Dante que me consome
Vejo as folhas a cair lentamente e comparo-as com o Outono da vida
Que relembro e sinto-me vergada pelo peso de chumbo do passado.
A Primavera que passou não foi tão longa mas consegue antecipar a dor
Do Verão que ainda tenho encarcerado fora de tempo dentro de mim
Enquanto me arrasto pé ante pé numa morna lentidão por esta estação
Que vai, inevitavelmente, levar ao clímax de um Inverno de um grandioso inferno…

I Prémio de Poesia jorge du val

Parabéns à PROIBIDA, também vencedora com "Céus de Outono"

P@rabéns

Hoje as palavras não são minhas... mas gostamos os dois de quem as escreveu.
Beijo na hora exacta dos teus 42 anos, Poetik!

Roberto Carlos - "Um Jeito estúpido de amar"
na voz de Maria Bethânia

Preciso...


Preciso de despertar
Deste sono de anos
Infindos sem dormir

De um golpe no pulso
Para ver que o sangue
Ainda me corre nas veias

De um beijo talvez divino
Sem me sentir humana
Para evitar o sofrimento

Apenas deixar-me estar
Ser tudo e ainda nada
Não preciso de mais

Não quero!

Esta que aqui está não sou eu
Sou outra ilusão qualquer
Imagem fraca de mim mesmo
Miragem ao longe no deserto


Não quero passar sem passar
Sentir um poço no centro de mim
Cair sem saber quando ele acaba
É um pesadelo constante ser eu


Não quero acordar sem saber
Se sou o outro ou apenas eu
Vontade de me transformar
Desejo de constante evasão


Passagem de ontem para amanhã
Ponte da minha alma para o teu ser
Sou o que quiserem que seja
Menos eu mesma, não quero!

... só mesmo p@lavras

... um dos porquês das minhas serem "só mesmo palavras" é porque outras quando se juntam ganham vida própria...

Yves Montand - Les Feuilles Mortes

E ali estava eu a ler um poema
A ler e a caminhar
Enchi-me de paz e deixei de ter pressa
Parei de ler.

Continuei a andar e a pensar.

Sem pressa ... Pressa para quê? Pressa porquê?
(É que eu tenho um segredo e tenho medo que ele fuja se me apressar agora)
Tenho palavras guardadas em mim.

Nem eu as vou usar, tenho medo de as gastar!
São o meu tesouro e um tesouro não se pode desperdiçar.
Caminho lentamente e parece que cada pessoa que passa me leva uma palavrinha.
Paro.

Leio novamente as minhas palavras e a calma volta.
(Schht! Eu tenho um segredo.)
Caminho agora com a certeza que ninguém me consegue roubar as minhas palavras.
Bem, minhas, minhas, elas não são, eu não penso em francês,
Mas considero-as como tal, pois senti-as como se o fossem!

(puro devaneio depois de ler o poema:)

LES FEUILLES MORTES

Oh, je voudrais tant que tu te souviennes,
Des jours heureux quand nous étions amis,
Dans ce temps là, la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Tu vois je n'ai pas oublié.

Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi,
Et le vent du nord les emporte,
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié,
La chanson que tu me chantais...

C'est une chanson, qui nous ressemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Nous vivions, tous les deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Et la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit.
Et la mer efface sur le sable,
Les pas des amants désunis.
Nous vivions, tous les deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Et la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit.
Et la mer efface sur le sable,
Les pas des amants désunis...

Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie
Je t'aimais tant, tu étais si jolie,
Comment veux-tu que je t'oublie ?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais
Toujours, toujours je l'entendrai !

Jacques Prévert

C@mpainha


Ouço os acordes da minha imaginação
Quero saber se estão sincronizados ou não

Imagino...
Uma flor
Um amor puro
Uma noite limpa de nuvens


Vejo...
Um cigarro que me diz que estou nervosa
Uma conversa que me cheira a bafio
A hipocrisia que ponho num copo de leite


E continuo a ouvir o que não quero
Uma campainha que me martela o desespero