O que há @qui?

... textos da minha autoria (ou com os créditos devidos se não forem) ... imagens da internet (algumas fotos minhas) ... poesia em prosa (e prosa poética) ... links poéticos (outros não) ... as minhas músicas (também as tuas talvez) ... comentários (ou não) ... eu e o meu narcisismo... somente!

inesperadamente ... poesi@

Museu das Aldeias - Relva


"O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
E nem ver quando se pensa."

Alberto Caeiro

@uto-estrada


Não gostaria de caminhar como numa auto-estrada
Sem as imensas curvas dos caminhos de cabras
Que beleza encontraria se a estrada fosse a direito?
Veria apenas as marcas brancas da estrada
E rails cinzentos a separar o alcatrão da relva

Gosto de sentir nos pés um caminho sinuoso
Como o que me leva até aquela ermida distante
Chego, ajoelho e rezo com palavras só minhas
Aguardo que um carreiro se desenhe na minha frente
E continuo a grande caminhada em alguma direcção

Não faria sentido ter palas nos olhos como os burros
Seria como admirar um pôr do sol de óculos escuros
Agarro as pedras e sinto-lhes o calor de um sol já ido
Olho as árvores, aperto as folhas nas mãos
Cheiro a resina que se me entranha nas narinas

Prossigo o meu caminho com a ténue certeza
De reencontrar alguém no meio de algum atalho
Deixando-o aperceber-se a pouco e pouco
Que a estrada se caminha melhor a dois
Que isto é só um desvio pelo meio de mim mesma
E que teremos sempre lugar lado a lado

EU


Eu sou de cheiros e de absorver o calor do sol…
Eu sou de suar por estar ao sol e gostar do meu cheiro

Eu sou de gente a transbordar de palavras…
Eu sou de estar com gente até quando aí me sentir só

Eu sou de olhares cheios de sentimentos…
Eu sou de olhar até não gostar do que vejo

Eu sou de cozinhar lentamente até chegar ao êxtase...
Eu sou de lume brando enquanto não queima

Eu sou de ter medo que uma vida não chegue...
Eu sou de viver mais que uma vida até que o cansaço vença

bast@

de onde me vem esta tristeza de tudo e de nada
de onde virá esta vontade de já nem querer ter
não tenho sequer já a presunção de única ser
resta-me a certeza de por breves instantes ter sido A
maldito ciúme de quem ama de novo após tantas luas
fere mais que o sentimento imberbe do lamento a solo
lá longe sem precisar de justificar bastava dizer “não quero”
hoje a idade e a dita experiência traz consigo um “porque…”
queria voltar ao imberbe e conseguir dizer apenas basta
com a segurança de parar esta vivência que me faz sofrer
em cada passo que dou em direcção a nada num caminho torto
que lavro dentro de mim a cada sono sem sonhos que tenho
nas noites cada vez mais longas que vou empurrando
e atravessando num torpor de prozac dia após dia…

Enqu@nto


Enquanto o sol se põe
Penso em ti

Vou erguendo uma prece
Para te ter junto a mim
Penso que tudo o que sinto
Ficará para sempre assim

Eu querendo-te muito
E tu não me querendo tanto

Enquanto espero pelo luar
Penso em ti

No meio dos lençóis frios
Aguardo-te com a ânsia
Própria de quem ama
Julgo que tudo será sonho
Quando finalmente te beijar

Eu amando-te muito
E tu não me amando tanto assim

Chuv@ e lágrimas

Se a chuva me sabe a água
porque é que a água não me sabe a chuva?

“És a minha chuva
e os teu olhos são o céu
e dele caem lágrimas abençoadas pelo teu coração”

Se a chuva é salgada
a que saberão as minhas lágrimas?

“Desfaz-te em mil e uma gotas
que sabem a tudo e a nada
mas sem semelhança ao sabor das ondas”


Se choro por não te ter
porque não chove no universo como dentro de mim?

"E se algum dia duvidares
que algo poderia ser o melhor da tua vida,
então não duvides - tem a certeza de que o seria"

M@is um sonho


Hoje eu tive um sonho

Sonhei que era a pedra da calçada
Que todos pisavam a sorrir

Sonhei que era a fonte
De que todos bebiam e agradeciam

Sonhei que era o pão
Que todos comiam e abençoavam

Sonhei que era o lençol
Onde te deitavas, amavas e adormecias

Acordei com um sobressalto e olhei pela janela

As pedras estavam sujas
Todos passavam por elas sem olhar para elas

A fonte estava seca
Todos praguejavam, como se a culpa fosse dela

O pão largado em cima da mesa era côdea bolorenta
Esquecida por todos havia dias

Os lençóis estavam frios
Tu não estavas ...

Qu@ndo a chuva passar...


"... A nossa história não termina agora
E essa tempestade
Um dia vai acabar...

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela
E veja: Eu sou o Sol... "

Tormento

O tempo atormenta-me
Não me chega uma vida
Para te poder encontrar

O Sol segue a Lua dia após dia
Eu durmo noite após noite
Sem te conseguir abraçar

Os ponteiros avançam
O meu ritmo é diferente
Os pés não acompanham

O vento continua a soprar
O meu coração bate irregular
Tenho sensações difusas em mim

Vislumbro a tua sombra
Sem te conseguir alcançar
Continuo a caminhar a solo

Talvez um dia...

Enfeitiç@da



Quando vires a chuva a cair
Pensa em mim

Quando beberes água da fonte
Acredita que é a minha boca

Quando vires as folhas a cair
Sonha comigo

Quando notares umas mãos nas tuas
Imagina que são as minhas

Quando sentires o sol na tua cara
Lembra-te de mim

Quando a paixão te consumir
Inventa que me tocas


Se o feitiço não pegar
Não terá a mesma força
Daquele que me lançaste


Março/2001

Entre ... t@nto


Tanto no sonho como na realidade
Eu estou aqui
... e fico

Entre voar pelas ruas e aterrar em ti
Eu permaneço
... sem dúvidas

Entre o partir e o voltar
Eu fico
... contigo

Entre o teu olhar e o meu
Somos um só
... sempre!

H@bito


Passei como todos os dias passo
À tua porta
Olhei como todos os dias olho
Para a tua janela

Já era habitual ver-te olhar para todos
Mas não para mim
Não julgava merecer

Naquele dia os olhares encontraram-se
Enquanto chovia eu tremia
E parei, quebrando o hábito

Baixaste o olhar como eu temia
E eu segui como sempre
Sem olhar para trás

Fevereiro/2009

Ode a um des@parecido

Vaguearei por aquela loja imensa
E comprarei um CD só para mim
Mesmo que seja um repetido
Beberei um café naquela mesa
Onde corei com um sussurro

Lembrar-me-ei de ti quando for à Foz
E sentar-me-ei no mesmo local
Onde senti as tuas mãos
Recordar-te-ei vendo o sol de outono
Junto a uma qualquer praia

Passearei pela margem da Ria
E perguntarei aos pescadores
Se têm alguma memória de nós
Saborearei um vinho especial
In that old crummy hotel

Sentar-me-ei naquele tronco seco
No meio daquele areal imenso
Fecharei os olhos contra o sol
Quase ouvindo a tua voz
Descrevendo-me no meio de Sintra

Passearei só pelo meio de ruínas
Tocando em cada uma das pedras
Imaginando uma estória
Palmilharei o descampado
Quase vislumbrando Avalon

Deitar-me-ei imaginando
Que afinal tudo foi um sonho
Sonhado de olhos abertos
Resistindo à tentação de os abrir
Pois é chegada a hora de acordar

Abril/2001